Quando uma pessoa se decepciona, uma das reações mais comuns é ela se fechar. Dizer “daqui pra frente, vou me preocupar só comigo”.
Eu não sou muito diferente.
Um dos meus maiores medos é perceber que alguém se aproveitou do meu amor, generosidade ou empatia.
É uma reação lógica, faz bastante sentido. Como eu me disponibilizei e apareceu um sanguessuga, melhor cobrir a pele, evitar me expor de novo a essa possibilidade.
O problema é que todas as vezes que segui esse impulso, fui conduzido a uma vida ainda mais solitária, isolada e amarga. A mesma carapaça que me protegia, também me impedia de sentir o toque do mundo. Em outras palavras, fui ficando cada vez menor.
Com o tempo, comecei a perceber um certo padrão.
É um pouco difícil de notar, mas com uma certa frequência, a coisa mais lúcida e benéfica a se fazer em meio à dor é o oposto do impulso que aparece.
Observe. Quando estamos com raiva, queremos bater, xingar, matar. Quando estamos ressentidos, queremos fugir, nos isolar. Quando temos ciúmes, queremos controlar a vida do outro. Mas nada disso resolve e, ao contrário, vamos percebendo que essas atitudes só adicionam ainda mais problemas à situação que já não era muito boa.
Sim, dá um certo alívio em saber que falamos o que estava engasgado, não deixamos por menos. Mas quando a emoção passa, não é raro a gente começar a reunir os cacos e ver que também saímos machucados e, talvez, com uma conta alta pra pagar.
Eu sinto como é difícil lidar com a realidade de que algumas pessoas, agem com desprezo em relação a todo o esforço que colocamos em benefício delas. Mas ceder ao impulso do fechamento é como explodir de raiva e agredir alguém que você ama. As consequências são horríveis.
Pode não parecer, mas isso tem tudo a ver com a nossa vida criativa. Realizar uma atividade criativa é, também, se deparar com expectativas frustradas. Então, a forma como nos relacionamos com esse sentimento vai ser a mesma quando o resultado que queremos não vier.
É impossível que um coração fechado consiga ser criativo, leve, divertido, amoroso. A tendência é o terreno se tornar cada vez mais árido, solitário e infértil.
Porque a questão não é tanto sobre como o outro retribui, mas sobre o que treinamos dentro de nós. Quanto mais aprendemos a dissociar nossa capacidade de nos importar com o quanto sofremos sobre alguma coisa, mais vamos abrir espaço para experimentação, brincadeira e alegria.
Não que isso seja exatamente fácil. Uma das coisas mais complexas dessa vida é se importar sem apego.
Mas o impulso da autoproteção me parece triste demais pra ser algo que valha a pena tentar até o fim.
Prefiro seguir com a ideia de fazer o contrário do que o impulso me pede. Ao invés de me fechar diante da decepção, me importar muito mais, ao ponto de abrir um enorme espaço, capaz de abraçar e envolver qualquer coisa.
Ser autocentrado, egoísta e medroso é a antítese do que acredito ser o caminho para a felicidade. Não importa o ângulo por onde olho, egoísmo não é uma qualidade positiva. Não é nem interessante e, na verdade, apenas repele e destrói. Só gera mais ansiedade e medo.
Quando meus impulsos de autodefesa começam a aflorar, venho repetindo pra mim mesmo, vez após vez: tente ser gentil. Olhe com curiosidade. Acolha. Dedique atenção a qualquer coisa que não seja seu próprio ego. Importe-se.
Vá aonde o amor está.
A insistência em não desistir
Em um daqueles momentos de procrastinação bem gostosos, encontrei esse Notes da
falando sobre a importância de autores aproveitarem o aspecto de comunidade do Substack. Percebi que, da lista dela, eu não costumo falar das minhas leituras dentro da própria plataforma.Então, decidi começar agora, recomendando a própria Ale, que publicou esse texto bem legal sobre a dificuldade em desistir.
É um limite muito tênue que separa a desistência precoce da insistência fatal. Mas se tem um clichê que funciona é aquele que diz que temos que fechar uma janela para abrir uma porta. Será que não vale a pena parar de brigar com aquela rede/tecnologia/moda/tendência e se dedicar mais ao que te faz naturalmente "ir bem na prova"?
Se tem algo que eu defendo nessa vida é a importância de aprender a soltar, relaxar no que se apresenta e não rejeitar a realidade. Fácil no discurso, mas bem difícil na prática.
Vivendo dentro do 101 Dálmatas
Esse Notes da
me trouxe uma série de memórias. Apesar de ter sido bastante mal falado quando saiu, eu amo o estilo de animação desse período da Disney.Para quem não sabe, nessa época o estúdio andava mal e começaram a adotar técnicas para reduzir os custos de produção. Uma das mudanças mais importantes foi a adoção da xerografia, que dá esse traço mais “grosseiro” e fica com um visual quase como se fosse um livro ilustrado vivo, com os traços do esboço às vezes pipocando aqui e ali.
Dizem que Disney, o homem em si, detestava esse estilo. Desculpa, Waldisney, mas é lindo e você estava errado.
No meu repeat: essa versão de Careless Whisper
Eu amo a Elise Truow. Ponto.
Essa união dela com a Scary Pockets tocando Careless Whisper ao estilo da abertura de Ducktales está simplesmente perfeita. Sério, ouve aí que demais!
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Luri,
Adorei a versão da música do GM. Vou insistir no meu Substack, nas histórias que quero colocar no mundo. Ele acaba perdendo espaço para outras tarefas quando deveria ser prioridade. Obrigada por me lembrar disso.
"vá aonde o amor está". eita você de novo hein! eu escrevi minha carta ontem e veja que na sua carta de hj cê fala nesse senso de comunidade dos newsletteiros, felizes coincidências.
sempre acreditei e me apego muito nessa comunidade. se tem leitor mais fiel que newsletteiro, desconheço.
abração! :)