Eu sou um humano. Filho da dona Leia, irmão do Luã, neto do seu Albertino, amigo de várias pessoas, indiferente a infinitas outras. Designer, cantor, escritor. Eu sei tocar violão, jogar Mario Kart e desenhar. Gosto de ver longas de animação e ler livros sobre budismo. Medito sempre que posso e busco, como dá, ser uma pessoa ética. Persigo o sonho de viver dos meus ofícios artísticos e culturais, embora nem sempre com o afinco que o tamanho do desafio exige. Enquanto isso, continuo lutando pra sustentar minha casa, lidar com todos os problemas cotidianos e ser útil à minha família.
Todos esses papéis vêm com seu próprio conjunto de ônus e bônus, tarefas e obrigações, dores e delícias.
Existe um Luri mais jovem que tomou algumas dessas decisões, sonhou e dedicou todas as forças pra construir uma máquina, sonhando com o instante no qual ela voaria.
Teve aquele dia no qual eu disse “mãe” pela primeira vez. Houve o momento onde peguei um lápis e uma folha de papel para desenhar. Em outro dia, quis ser igual a um cantor que gostei. Teve o momento no qual optei por me matricular no vestibular pro curso de design… e por aí vai.
Invariavelmente, cada uma dessas decisões foi sendo desafiada pelas circunstâncias da vida e várias dúvidas começaram a soprar no ouvido.
Afinal, a maioria de nós está longe de ser algum gênio e ter aspirações verdadeiramente únicas, mentes capazes de sonhar grande, para além das nossas convicções e desejos momentâneos. Somos bem limitados, verdade seja dita. Eu sou, ao menos.
Isso se agrava ainda mais se colocarmos na equação que muitos de nós estabelece planos, metas e sonhos em fases da vida quando estamos longe de ter as ferramentas pra decidir com toda essa firmeza que nos exigem.
Nossa lista de sonhos, a maioria das vezes, é um conjunto de ideais adolescentes, frustrações infantis e neuroses mal resolvidas. É de se admirar a força com a qual nos agarramos a esses objetivos.
Esse impulso é tão forte que raramente paramos pra pensar na situação e nas consequências disso.
Talvez, seu movimento esteja limitado por esse amontoado de decisões antigas. Decisões que podem ter pouco a ver com suas prioridades e desejos atuais. Talvez você tenha passado anos formando hábitos que não gosta mais, ou tenha criado cuidadosamente um ambiente que agora é monótono, tedioso, mas ainda assim familiar. Por mais quentinho que pareça dentro dessas paredes, elas podem constituir uma barreira contra uma mudança que talvez esteja se apresentando do jeito mais natural e bonito possível.
Mais pra frente, quando os anos passam, pode ser que você perceba que está fazendo força até pra querer o que você queria antes.
Ainda assim, fica difícil olhar pra trás, ver tudo o que você já andou e, do nada, dizer “Quer saber? Eu nem me importo mais com nada disso.”
Pode parecer que abandonar esses sonhos seja uma traição contra aquela sua versão antiga. Afinal, existe todo um discurso sobre persistir, jamais desistir, nunca se render. Mas será que essa fidelidade a um velho eu vale mesmo tanto esforço, cansaço e dor?
Quando a gente ouve a ideia de se render, ela vem carregada do medo de ser visto como um covarde, um desistente. Mas, ao invés de associar essa ideia com uma vida deitado na cama sem forças, poderíamos entendê-la como se entregar ao que já está acontecendo. Mais ou menos como quem solta os músculos para conseguir boiar e ser levado pela correnteza.
Render-se à sua vida conforme ela se apresenta pode significar desejar algo que você já deseja, mas tem medo de admitir. Pode ser assumir um lado seu que já está aí, pulsando, pedindo pra sair e assumir as novas circunstâncias.
No fim, deixar de fingir pra si mesmo e encarar que não somos aquela coisa que gostaríamos de ser nos coloca em outra direção. Uma direção que não é apenas um reflexo de uma vontade antiga que até pode ter perdido o sentido. Ao contrário, pode permitir que você olhe para o que faz sentido agora e não para essa miragem que você vem projetando.
Vou abrir o coração. Eu carrego comigo esse sentimento de que o mundo é muito difícil, assustador, pesado. Parece que tem coisa demais pra fazer, pouco tempo, pouco dinheiro e pouca energia. Tanta coisa que eu queria ter feito e não consegui…
Pelo que vejo por aí, acho que não sou o único com esse sentimento.
Mas, refletindo sobre isso, percebo que não é tanto o mundo que é assim quanto sou eu me apegando a ideais sobre como minhas circunstâncias deveriam ser, sobre o quanto eu deveria dar conta dos meus papéis, objetivos e sonhos.
Eu fui percebendo que 80% do que eu planejava fazer na vida era completamente irrelevante e desnecessário. À medida que vou limpando essas histórias loucas sobre como minha vida deveria ser, venho descobrindo um jeito de viver com muito menos atrito.
Eu não resolvi minhas frustrações. Ao invés disso, percebi que a maioria delas sequer precisavam ser resolvidos.
A sensação pode até não ser maravilhosa logo de cara. Você sempre se pergunta, algumas vezes, se cometeu um erro terrível. Você olha ao redor e, ao se assustar com a nova paisagem, acaba dizendo: “calma, isso aqui não é aquela vida que eu queria, tem alguma coisa errada!”
Mas esse desequilíbrio pode ser a causa para encontrar um terreno melhor em um outro ponto, da mesma forma como perdemos o eixo quando tropeçamos mas dois passos estabanados pra frente, conseguimos ficar de pé de novo.
Em outras palavras, é possível reduzir esse hábito de fixação desesperada ao ponto de não só aceitar o que se apresenta, mas também de dar as boas vindas ao que vem, ao que é.
Entregar-se, render-se à sua vida exatamente como ela se apresenta é transformar a realidade por completo da mente pra fora.
Em seu livro “Acolher o indesejável”, a Pema Chödrön cita o Chögyam Trungpa Rinpoche em uma fala que sintetiza tudo o que vim balbuciando nesse texto com uma beleza com a qual eu jamais conseguiria, mas que fico feliz em poder deixar aqui.
“Existem sons que você nunca ouviu, odores que nunca sentiu, imagens que nunca viu, pensamentos que nunca teve. O mundo é espantosamente cheio de potencial para uma abertura cada vez maior, para ser experimentado de modo mais e mais amplo.”
—Chögyam Trungpa Rinpoche
Pra nunca mais esquecer quem é Mazin Silva
Um amigo me mandou um vídeo de TikTok onde o Mazin Silva tirava de ouvido uma série de músicas de games e animes. Eu achei legal, mas não dei muita atenção, inicialmente.
Eu venho viciado em jazz essa semana e, por obra do algoritmo do Youtube, esse show tocou e fiquei muito feliz que isso aconteceu. Esse show é um achado, uma preciosidade!
Fiquei surpreso ao ver que era o mesmo artista dos vídeos do TikTok. Posso dizer que Mazin Silva não sai tão cedo da minha playlist.
Em tempos de inteligência artificial, um pouco sobre inteligência humana
Durante a semana, surgiu um debate em um grupo de amigos sobre essa notícia que contava a história de um simulador de drone guiado por Inteligência Artificial que chegou à conclusão de que a melhor forma de atingir os objetivos da sua missão seria matando seu operador humano (que no momento, tentava abortar a missão).
Entramos em todo o surto acalorado de que a IA acabaria com o mundo, mas o mais legal foi quando surgiu a dica do livro “O humano mais humano”, de Brian Christian. Claro, o livro em si é anterior a esse momento de popularização das IA que estamos vivendo, mas é interessantíssimo não pelo que ele fala da inteligência de máquinas, mas sim de como ele se aprofunda a respeito do que é a inteligência em humanos.
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Me identifiquei. Acho que na realidade estamos sempre traindo a nós mesmos, principalmente quando colocamos condições à felicidade: só vou ser feliz quando alcançar tal patamar ou atingir tal objetivo. Então, pelo menos, que seja uma traição que nos torne mais satisfeitos com a vida. :)
Isso aqui me atingiu em cheio:
"No fim, deixar de fingir pra si mesmo e encarar que não somos aquela coisa que gostaríamos de ser nos coloca em outra direção. Uma direção que não é apenas um reflexo de uma vontade antiga que até pode ter perdido o sentido. Ao contrário, pode permitir que você olhe para o que faz sentido agora e não para essa miragem que você vem projetando."
Obrigado pela reflexão! 👏👏👏