Por sorte, tenho amigos profundamente envolvidos com a vida criativa. Músicos, cantores, compositores, produtores musicais, figurinistas, cenografistas, videomakers, escritores.
Às vezes, converso com um amigo produtor musical que compartilha os vídeos que ele vem produzindo. Em outros momentos, troco com um amigo escritor de mão cheia sobre o que ele pensa a respeito dos meus textos. E, com outra amiga, discutimos estratégias de criação e perrengues da vida de criador.
Normalmente compartilhamos trabalhos um com o outro, pedimos opinião e ideias. É uma dinâmica muito legal. Há uma confiança de que o olhar dessa pessoa vai chegar despido dos vieses que carregamos e que esse ponto de vista pode adicionar algo valioso que não percebemos.
Mas, para além do aspecto prático de que essas trocas, quando feitas em um ambiente de abertura e honestidade compassiva podem melhorar e muito nosso trabalho, há um efeito de acolhimento e segurança que só a troca entre pares pode proporcionar.
A gente vive num mundo bastante hostil, não é novidade pra ninguém. Ser um artista é uma identidade difícil de sustentar. Em muitos aspectos nem é reconhecido como uma atividade válida. Raramente é considerado uma profissão. “Mas você trabalha com o quê?” é uma pergunta que quem tira seu sustento do ofício ouve com frequência.
Mas mesmo quando é um hobby, ser um criativo é olhado com um certo julgamento. “Por que você está investindo seu tempo nisso? Vai atrás de algo que dá dinheiro.”
Podemos somar a essas pressões a demanda por sucesso mensurável e público. Hoje não tem muito como fugir, afinal de contas, os números estão aí para quem quiser ver, expressos em likes, comentários, seguidores, assinantes e visualizações. É fácil nos perdermos entre métricas e comparações.
Nosso impulso criativo acaba sujeito a muitas forças externas, prontas a implodir nosso pequeno submarino artístico.
O filme O Serviço de Entregas da Kiki, do diretor Hayao Miyazaki ilustra um pouco desse processo. Quando a bruxinha Kiki perde a vontade de voar, sobrecarregada, exausta e insegura quanto às suas habilidades, é na companhia da pintora Ursula que ela consegue recarregar as baterias e se reconectar.
Então, podemos ver o quanto é precioso habitar espaços — virtuais ou não — onde essas trocas acolhedoras são possíveis.
Nós deveríamos cuidar do nosso impulso para criar como se fosse a coisa mais valiosa do mundo, uma florzinha delicada que, se tomar sol ou receber água demais, acaba morrendo. Porque, por mais cafona que seja essa metáfora, é exatamente o que esse impulso é.
É um desafio enorme sustentar esse brilho no olho. E, se a gente faz qualquer coisa que dá um desagrado, aquilo mexe com essa parte sensível e tem o potencial de nos afastar.
Às vezes, me pego imaginando se uma tal decisão vai impactar o trabalho e ser a diferença entre passar uma vergonha pública e o grande hit que vai me tirar do perrengue. Enfim, alucinando, fritando e me perdendo em mim mesmo.
A verdade é que não importa tanto. O que realmente importa é criar aquilo que eu gostaria de ver no mundo, aproveitar essa felicidade e os aprendizados que vem junto com isso. Jogar uma pedrinha no lago e ver o que acontece.
Até aonde a onda vai e em quais obstáculos ela vai bater não tem muito como saber, mas continuo tomando nota de quais escolhas me aproximam da paz e o que me afasta de mim mesmo.
Muitas vezes, é difícil até me reconhecer enquanto artista. Eu escrevo, canto, componho músicas e até já lancei um disco. Ainda assim, não consigo bater no peito e dizer “Prazer, Luri. Eu sou artista.”
Nunca sai. Quer dizer… às vezes, até sai. Meio tímido, pequeno, mas sai. Quando faço isso é quase como um ratinho pegando um pedaço de pão e correndo pra trás do armário o mais rápido possível.
Agora, escrevo regularmente. Tenho que criar a coragem pra dizer que sou escritor. A verdade é que toda semana tiro um texto das profundezas dessa insegurança em relação à minha identidade.
A luta é para nunca desistir antes de tentar. Manter o espírito de criança curiosa, que se diverte com um amontoado de lápis e papel, colocando pra fora a forma como sente o pai, a mãe, o rio, o passarinho, os colegas, os traumas e as alegrias.
Esse impulso nunca nos deixa. É uma força que nos chama, uma maratona que é praticamente impossível de não percorrer e que nos adoece quando insistimos em não seguir. Algumas vezes nos separa da nossa família, amigos e colegas que não nos entendem. Mas, quando encontramos aqueles dois ou três companheiros de jornada, que sentem essa energia dentro deles também, é uma forma de conexão curativa difícil de explicar.
Quando estou entre os meus, com quem entende o sentimento de ser meio alienígena em um universo que busca e valoriza coisas tão diferentes, o sentimento muda muito. De repente, fica até um pouco mais fácil de dizer com orgulho que carrego a mesma luz, a mesma sensibilidade, os mesmos receios. E até que sou artista.
She’s really something
Queria deixar hoje a recomendação da
. Os escritos dela têm uma qualidade sensorial que, honestamente, me dão até uma invejinha. Quando leio o que ela escreve, sempre fico inspirado.Por isso, fiquei muito feliz quando soube que ela abriu um Substack. Ela tem um mel nas palavras, de tal forma que se ela decidir escrever sobre as lesmas do jardim, tenho certeza que vão ser as lesmas mais viscosas e bonitas (ou nojentas) que você já sentiu.
Se eu fosse você, já colocava meu e-mail ali pra receber as próximas.
Entrei num loop de indie Tailandês
Eu entrei num loop de indie tailandês. Dentro os novos artistas que venho descobrindo, ando viciado no som de Phum Viphurit. Achei sensacionais as composições e, principalmente, os temas das letras tratando de saúde mental e emoções de um jeito realmente bonito. Além disso, ele toca muito! Vale seu play.
Diário de Produção: planos, planos, planos
Faz um tempinho desde a última vez que relatei como anda minha rotina nesse pedacinho de diário.
O Puxadinho vem dando muito mais frutos do que eu pensava. Novas pessoas chegando, novas conversas, novas recomendações. As conexões que estão se estabelecendo me alegram demais.
Então, junto com isso, está crescendo uma vontade de tentar um projeto de longo prazo. Decidi encarar escrever um livro, num esquema independentão mesmo, lançar como ebook e ver no que dá.
Não sei se é mais um projeto fogo de palha, mas a ideia é relatar minha jornada até a conclusão nesse espaço. O que você acha desse plano? Tem algum tópico ou ideia que gostaria de ver? Conta aqui embaixo nos comentários que, assim, você me ajuda muito. :)
Meu primeiro apoiador e o futuro do Puxadinho
Essa semana também veio com um marco: meu primeiro apoiador pago. Logo em seguida, chegou mais um. Sim, eu sei que é algo pequeno, não vai tornar ninguém milionário, mas é uma alegria tão grande ver que alguém acha meu trabalho digno do seu suado dinheiro. Vem com um gostinho de conquista enorme. Então, obrigado por isso!
Eu também entrei em uma pequena obsessão por tentar entender o que faria a assinatura paga do Puxadinho se tornar mais atraente. Inicialmente queria testar não colocar textos apenas para quem pagar, mas não tenho certeza se isso está sendo atrativo.
Você tem alguma sugestão do que gostaria de ver por aqui? Algo que acha que eu faria bem? Sou todo ouvidos. :)
Lembrando que com R$10 você também pode entrar para o seleto grupo de apoiadores do Puxadinho. É só clicar nesse botão mágico:
Eu também tenho dificuldade de dizer que sou escritora. Tenho pensado que falar sobre isso com qualquer pessoa é levantar uma bandeira. Lembrei agora que, quando criança, eu brincava de ser porta-bandeira de escola de samba (sim). Eu e o cabo de vassoura girando no meio da sala. E minha mãe gritando: menina, olhe o lustre! O fato de sermos nós mesmos e carregarmos nossas bandeiras assusta e desafia os outros. Saber isso ajuda, mas nem tanto.
Compartilho do seu constrangimento. Sigamos.
Caramba, que texto bommm!!!!