Transformando sentimentos ruins em arte
"Não existe obstáculo ao caminho, o obstáculo é o caminho."
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Aqui vai mais uma resposta.
“Queria que você falasse sobre angustias e estagnação, sinto ser esses os principais motivos limitantes da minha escrita e parece que mais me paralisa do que me impulsiona... como transformar sentimentos ruins em arte?” (Anônimo)
Tem uma citação do Marco Aurélio que eu carrego comigo.
“O que impede a ação favorece a ação. O que fica no caminho torna-se o caminho.”
Uma outra forma de dizer é: não existe obstáculo ao caminho, o obstáculo é o caminho.
Não quero me colocar como modelo de nada, porque não sou. Mesmo.
Mas o que venho notando ao escrever o Puxadinho e tentar manter uma consistência é que, sempre, o mais importante a ser dito é o que quer que esteja dentro do meu coração, pedindo pra sair. Eu não tenho um plano de marketing, não tenho dianteira de conteúdo, não faço nenhum planejamento. Busco apenas escrever sobre o que quer sair, do jeito que sair.
Eu ando por aí, tentando captar o que vira ideia fixa e depois crio um caminho narrativo para falar disso. Não sou de escrever especificamente sobre as situações que vivo, mas tudo vem diretamente das minhas dores, aflições e, sim, alegrias. É inescapável.
Ando lendo o livro do Rick Rubin, O Ato Criativo, e lá ele fala algo que eu aprendi ser verdade ao longo do caminho.
“O material para nossa obra nos cerca a cada passo. Está entrelaçado nas conversas, na natureza, nos encontros casuais e nas obras de arte existentes.
Quando você estiver procurando solução para um problema criativo, preste muita atenção ao que está à sua volta."
Eu sei que quando a gente sofre, tudo parece bem particular e, dependendo da sua forma de ver, até meio ridículo, vergonhoso. Mas por mais que essas experiências pareçam muito únicas, a verdade é que todo mundo passa por situações parecidas. Nossa vida não é lá tão diferente assim. E, mais importante, os sentimentos oriundos dessas experiências são praticamente os mesmos.
Esse pode parecer um ponto de vista meio amargo, como se tirasse o valor do que vivemos. Mas eu gosto de pensar assim porque, na minha cabeça, é justamente o que faz tudo acontecer.
Quando escrevemos sobre algo que vivemos e como nos sentimos, alguém que viveu esse sentimento pode se conectar. É aí que a magia opera.
O papel do escritor inclui um aspecto bastante especial, porque é uma das poucas formas de arte que nos permitem ser muito específicos sobre nossos caminhos mentais. Enquanto você me lê, é como se eu estivesse pensando dentro da sua cabeça, junto com você. É telepatia. Eu acho isso muito maravilhoso.
Assim sendo, é incrível como podemos contar uma história e ressoar junto com outras pessoas por meio da escrita.
É importante dar esse salto de fé e começar a falar sobre as coisas que nos assustam, nos angustiam, nos travam. Acreditar que, se é isso que se repete na sua vida, talvez seja exatamente sobre isso que você deva falar, não importa se seu texto vai ser lido por cem mil pessoas ou por ninguém.
Na pior das hipóteses, a escrita tem seu papel de ajudar a elaborar os sentimentos e pensamentos.
Algo que aprendi com um certo professor budista é que as aflições são como aqueles fantasminhas do Mario, sabe? Quando viramos as costas, elas nos perseguem, vão ficando maiores e vão nos alcançando. Mas tendem a perder o poder quando são observadas.
Então, de uma certa forma, quando descreve seus caminhos mentais, você vai fazendo uma trilha que pode levar a entender melhor seu passado, as razões que fazem você se sentir assim e como você lida com isso para sair do outro lado mais sábia (ou sábio), mais capaz de enfrentar essas e as próximas dores que, com certeza, virão.
Por último, um lembrete: talvez, a escrita nunca fique fácil. Eu venho escrevendo semanalmente e toda vez é o mesmo parto. Eu preciso pensar, sair, colocar um som e, principalmente, abrir mão do meu ideal sobre o que o texto vai ser.
Tem textos que gosto mais, outros que gosto menos. Mas acho que essa é a arte da coisa. Dar vida ao impulso criativo, encher o espaço em branco de letras agrupadas.
Não sei se essa resposta ajuda, mas daqui fico torcendo para você conseguir destravar e expressar o que está dentro de você. :)
Alguns livros sobre criatividade que li e gostei
Descobri muito cedo que começar a escrever suscita dificuldades que raramente são especificamente sobre escrita.
Gosto bastante de pesquisar sobre criatividade. No final das contas, é muito útil descobrir novas ferramentas para destravar a mente e permitir que a escrita flua.
Como hoje o tema envolveu esse aspecto de como passar por cima desses bloqueios, decidi compartilhar aqui alguns dos que li recentemente e gostei mais.
O Ato Criativo - Rick Rubin
Criatividade Espontânea - Tenzin Wangyal Rinpoche
Mostre seu trabalho - Austin Kleon
Uma animação (que não é) sobre tricô
Tem algumas pessoas que têm a capacidade de falar das atividades que gostam de um jeito que transforma qualquer coisa em muito mais do que apenas fazer algo. Eu leio entrevistas de pintores, esportistas, escritores, músicos, etc, e aqueles que mais se desenvolvem enxergam os próprios processos mentais enquanto fazem aquilo de uma forma que me fascina muito. Aqui, Visible Mending é sobre tricô. Mas não é.
Infelizmente, está em inglês. Mas se puder, assista. Recomendo.
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