Antes de começar, é importante ler a tirinha do começo ao fim.
Quando a gente ainda é moleque, tem uma cadeia de acontecimentos que acabam fundamentando os critérios que vamos adotando durante a vida.
O acontecimento que vou contar se deu naquela fase em que nossos pais estão morrendo de medo de nos tornarmos "vagabundos" e nos empurram para o primeiro emprego que surgir pela frente.
Em uma dessas nada glamourosas vagas, acabei me deparando com essa figura que acabou representando pra mim a imagem clássica do chefe. Ele era uma espécie de J. J. Jameson, sempre irritado, pronto a fazer brincadeiras desconcertantes e, principalmente, para dar broncas. Praticamente todos os dias alguém entrava pela porta do seu escritório e ele ouvia as justificativas para quaisquer eventuais falhas ou atrasos.
Para ele, não importava se a mãe de alguém tinha morrido, se o ônibus quebrou, se houve um alagamento que engarrafou a cidade inteira ou se o prefeito resolveu começar uma obra em alguma importantíssima via. Ele sempre fazia o julgamento que achava necessário, dizia o que tinha que dizer e, depois, quando o tal funcionário saia pela porta, dizia: "todo mundo tem uma história pra contar."
Fiquei com essa frase na cabeça um bom tempo. Eu tinha a nítida impressão de que ele falava aquilo com bastante desprezo, julgando todo mundo como preguiçoso.
Agora, anos depois, encontrei essa tirinha. O autor, Luke Pearson, tentou submetê-la em um concurso de quadrinhos do The Guardian. Porém, o destino não sorriu amigavelmente para ele e a história foi rejeitada.
De uma certa forma, ela me lembrou a frase do meu velho chefe, mas por um outro viés.
A gente está por aí, andando pelo mundo, errando, mandando mal, cobrando, sendo cobrado, se apegando, chamando isso de amor, recebendo foras, odiando, as coisas estão saindo dos nossos planos, insistimos, choramos, choramos, choramos... mas a gente está fazendo o nosso melhor. Mesmo que esse melhor às vezes seja bem ruim.
Se a gente parasse pra ouvir ao invés de ficar tão preocupado com nosso próprio ponto de vista, ia ver que, realmente, todo mundo tem uma história pra contar.
Cesta de compartilhamentos
A vida está sendo corrida ultimamente, coisa que eu detesto. Então, tenho meus pequenos momentos de subversão buscando falas que gerem fagulhas de amor e inspiração pras minhas palavras.
Depois dos resultados estranhos nas eleições dessa semana, sinto que é importante continuar cultivando flores na minha calçada e trazendo pra vocês o que encontro.
A Cris Lisbôa é incrível, conheci por meio de um curso de escrita do Go Writers que ela ministrou sei lá quantos anos atrás. Ela tem uma forma toda especial de acessar o que você carrega de bonito dentro de si. Eu me sinto transbordante quando ouço ela falando.
Por isso, recomendo o vídeo aqui em cima e os cursos dela. Foi muito importante pra mim, acredito que pode ser pra você também.
Ouça Incandescente ao vivo
Criar algo próprio às vezes é uma jornada pelas nossas contradições.
Honestamente, algumas semanas antes de fechar a produção do álbum, eu encasquetei com Incandescente. Algo na música não funcionava pra mim de forma alguma.
Tentei de tudo, troquei a letra da música inteira, praticamente fiz outra composição em cima. Tenho um amigo com quem compartilho meus processos e ele tinha ouvido a música desde as primeiras versões. Quando mandei as modificações que eu vinha fazendo, ele foi bem claro: “amigo, você está estragando a música".
Voltei pra versão inicial e parti pra gravação da voz final. No momento de cantar, passei pelo verso e, quando cheguei ao refrão, cantei outra melodia. Mesma letra, mas outra melodia. E eu acabei gostando. Mandei pro meu amigo e ele falou que também gostou.
No final, essa é a versão que lancei no disco. Apesar disso, tinha ficado registrado em mim esse sentimento de que era uma das músicas com menos potencial. Bem, não sei você, mas eu trato minhas criações meio assim, quase nunca estou 100% satisfeito.
Até que chegou o momento de ensaiar pra essa live acima e fiquei absurdamente surpreso com o quanto ela ganhou vida com a banda completa tocando simultaneamente. Talvez agora seja uma das que mais gosto nesse registro.
É incrível essa montanha-russa do processo criativo. A mesma coisa gera um efeito totalmente diferente dependendo de onde você está. Cada vez que você olha de novo, a obra muda de acordo com o que mudou em você. Como não amar fazer arte desse jeito?
Bem, deixo aqui a Incandescente para você conhecer. Espero que você goste também. :)
Minhas coisas
Gostou do que faço? Também estou aqui:
Instagram | Twitter | Youtube | Meu álbum no Spotify
Passando o chapéu
Se você chegou até aqui, considere contribuir com meu trabalho enviando um PIX simbólico de qualquer valor (qualquer valor mesmo!) para: luri@luri.me.
Se preferir usar cartão ou Paypal, também pode me pagar um cafezinho no Ko-Fi.
O Ko-Fi tem a opção de fazer uma contribuição regular mensal. Essa seria a contribuição ideal, se você me permitir escolher. ;)
Agradeço de coração por todo o apoio!
Um abraço apertado,
Luri
Essa News mexeu comigo demais, foi um soco bem dado. Obrigado por compartilhar.
Todo mundo tem uma história pra contar... isso vai ficar comigo também!
Abraço!