Há quase dois anos, quando eu comecei a criar meu álbum, não tinha a menor ideia do que me aguardava. Começa que eu não tinha nem a intenção de criar um álbum. Tinha sido demitido e esperava apenas ocupar algum tempo fazendo música. Minha ideia era gravar 3 músicas e lançar um EP.
Mas as coisas começaram a sair do controle quando logo em seguida eu tive Covid. Depois, fiquei sem conseguir cantar por causa das sequelas, então decidi compor mais músicas. Outros problemas foram aparecendo pelo caminho e eu sempre pensava em aproveitar a oportunidade pra dar mais carinho pra coisa que, então, se tornou um álbum propriamente dito.
Há uma semana, eu me vi tirando um domingo pra realizar mais um sonho musical antigo: gravar uma live session — que vai sair como parte dos preparativos do lançamento do Espaço Interior. De repente, eu perdi um pouco o fôlego… Lá havia mais de 15 pessoas entre cinegrafistas, maquiadora, fotógrafa, técnico de som, músicos, produtoras e assistentes de produção! Como foi que esse projeto ficou tão grande?
Ali, em meio à confusão da produção, o Rhuan — que é um grande amigo — virou pra mim e disse: "tem um momento que a nossa criação fica maior que a gente e ela acaba vindo ao mundo, quer a gente queira, quer não."
E era exatamente esse o sentimento que eu tinha. Posso ter começado a ideia, dedicado horas e mais horas quebrando a cabeça pra achar as músicas e entregar o melhor que eu tinha. Mas naquele ponto, quando chamei uma equipe e definimos um cronograma, o trabalho passou a ter existência fora de mim.
Confesso que é um pouco assustador, mas ao mesmo tempo, é bonito ver e fazer parte desse processo. Essa sementinha que plantei lá atrás vem ganhando uma vida muito além das minhas mãos e vem se preenchendo com uma energia cada vez maior, pedindo, lutando pra ganhar vida. E agora está em um processo de gestação tão avançada que eu não posso interromper.
Eu nunca entendia muito bem quando ouvia alguns artistas falando que uma parte do trabalho não era fazer esforço pra tornar o projeto possível, mas sim sair da frente pra que ele pudesse aparecer. Agora faz muito sentido pra mim.
Muitas das ideias que permeiam o projeto vieram de outras pessoas, bagagens e histórias. Isso muito me alegra, é como se o disco agora tivesse não só um pai, mas tios e tias, primos e primas, todos interessados em vê-lo crescendo e indo tão longe quanto conseguir ir.
Às vezes parece exagero ou algo que as pessoas falam na tentativa de deixar os outros animados, mas nesse caso, juro que não é. Depois da nossa diária de gravação, eu estou EMPOLGADO pra colocar esse trabalho no mundo.
O álbum já está pronto e agora os vídeos com essa live session estão em pós-produção. Quando concluirmos, vamos estar prontos pra colocar o Espaço Interior e tudo o que gira ao redor dele pra ganhar vida.
Quem diria que uma ideia apressada, fruto de uma série de improvisos, se tornaria o maior projeto que já toquei adiante? Nem consigo acreditar.
Maya Angelou diria que “não há agonia maior do que carregar uma história não contada dentro de você". E eu, abusado que sou, complementaria que não há felicidade maior do que finalmente contar uma história que saiu de dentro de você.
Na Vitrola do Luri: Altin Gün
Uma das coisas que eu mais gosto de fazer é procurar músicas de diversos lugares do mundo. Sinto que aqui no Brasil, quando falamos em música estrangeira, compreendemos quase sempre apenas música estadunidense e seus derivados. E, pra mim, juro… que tragédia.
A música do mundão é extremamente diversa. Muitas vezes, ouvir músicas de outros países fora do eixo Europa e Estados Unidos é como viajar pra um outro planeta. São tantas possibilidades, tantas variações, tantas explicações históricas e culturais… é fascinante!
Numa dessas explorações, conheci essa banda turca chamada Altin Gün em uma live da KEXP. Eles bebem forte na fonte do rock psicodélico anatólio dos anos 70, que teve um movimento similar à nossa Jovem Guarda. A sonoridade é uma espécie de rock setentista misturado com música tradicional turca.
Quer alguma coisa diferente pra dançar e cozinhar hoje? É só dar o play.
Quando chegamos a este momento, rola mesmo esse sentimento.
Senti isso na minha defesa de um TCC suado que fiz esses tempos, e novamente agora que voltei a trabalhar. É orgulho misturado com ansiedade.
É bacana sentir isso.
vai ser foda mano!!!
um beijo
Márcio