Os últimos dias foram meio esquisitos por aqui. Parei de ir treinar, deixei de meditar, o trabalho estava rendendo muito pouco e o corpo foi parando devagar até parar de vez, me deixando com uma baita sinusite.
Eu não estava tão mal assim da sinusite, não se preocupe. Ao menos, não tinha febre. Mas a dita cuja estava lá, sabe? Fazendo o que a sinusite faz.
Meu pensamento recorrente era “melhorou um pouco, amanhã já deve estar bom”. Assim, fui apenas convivendo com ela. Passou um dia, passou outro e outro…
O ciclo foi ficando ainda mais consolidado, até que percebi que não fazia sentido eu ficar sofrendo assim por nada. Levantei, fui ao médico, tomei os remédios e a diferença foi tão gigantesca que eu defini aos meus amigos como se tivesse saído de “eu não consigo pensar” para “eu preciso correr 10km AGORA”. A qualidade da minha energia mudou da água pro vinho muito rápido. Eu mal conseguia me reconhecer.
Então, cruzou a minha mente… como a gente vai empurrando esses pequenos incômodos e não percebe o quanto a vida melhora sem dor, né?
Quando nosso corpo dói, nós nos tensionamos, nos fechamos. O movimento que fazemos instintivamente é de virar tatu para nos proteger.
Nosso corpo responde muito rápido e de forma bastante escandalosa à dor, é fácil de observar. Mas também temos dor relacionada à fala e à mente.
Quando o corpo não basta pra abrigar a dor, a boca vira revólver. Cada palavra é como uma bala. Dá pra matar muita coisa com uma frase.
E quando a nossa mente dói, começamos a ficar agitados, inquietos, duros, críticos, cruéis. Pensamos coisas que não diríamos em voz alta nem para algum inimigo. Ainda assim, não temos pena de direcionar essa faca para nossa própria garganta.
Percebo que essas formas de dor vão se acumulando em nós. Algumas vezes elas são bastante óbvias e nos movimentam imediatamente. Percebemos logo de cara que não dá pra ser assim e vamos resolver. Tratamos como urgência.
Mas as pequenas dores são mais insidiosas. Elas se escondem nos cantos e nos rodapés. Elas parecem invisíveis, não são fáceis de enxergar. Quando elas estão lá, tem algo que incomoda permeando o tempo todo, um sutil desconforto, como se fosse um ruído baixinho. Você só nota quando ele para.