Essa semana falou-se muito sobre ser velho. Infelizmente, o gatilho não foi dos melhores. Um grupo de meninas gravou um vídeo onde debochavam de uma aluna da mesma faculdade que tinha mais de 40 anos. “Era pra ela estar aposentada", dizia uma delas.
Essa história me sensibiliza por diversos fatores, mas o principal deles é por ter como exemplo em casa a minha mãe, que cursou faculdade após os 50 anos.
Infelizmente, o discurso que essas meninas utilizaram não são coisa de jovem que não sabe o que é a vida. Elas estavam reproduzindo um discurso que acontece todos os dias.
Minha mãe mesmo, ouviu da família inteira — e também de colegas — que estava perdendo tempo, que o curso não levaria a nada e que ela estava muito velha para isso. Mas, tirando forças não sei de onde, se formou em Sistemas de Informação aos 55 anos.
Essa é a história com final feliz.
Mas tenho um outro exemplo em casa que vale mencionar.
Meu avô se aposentou um pouco tarde. Não sei os motivos, mas demorou a começar a receber o benefício. De qualquer forma, eu era criança e vi acontecer.
Se antes ele acordava cedo, pegava as coisas e ia vender na feira. A partir desse momento, ele parou de trabalhar, colocou uma cadeira de balanço na porta de casa e ficava ali, olhando o tempo. Quando eu perguntava o que ele estava fazendo, muitas vezes ele dizia que estava esperando morrer.
Cresci vendo meu avô falar coisas assim… que já não servia pra nada, que não tinha mais idade pra isso ou aquilo, que não queria conhecer ninguém, que velho não tinha amigo… todas essas frases que a gente sempre ouve.
Isso, por si só, já teria sido bem ruim, mas um dia após o outro, martelando a solidão e alternando entre o medo e a vontade de morrer, passaram-se mais de 30 anos.
Meu avô morreu aos 98 anos. Um longo processo no qual a morte que ele tanto esperava por estar “velho demais”, simplesmente se recusava a vir.
Quando olho pra trás, não consigo deixar de pensar que ele morreu muito antes da morte chegar.
O problema do etarismo, quer se perceba agora ou não, é que pode parecer muito engraçado quando você é o jovem brincando que está velho ou tirando sarro de que essa ou aquela atitude é coisa de velho. Ou que alguém não deveria fazer isso ou aquilo porque é coisa de jovem, ou que “fica feio nessa idade".
Mas quando a idade vem chegando, essas “brincadeiras” vão pesando. Aquilo que as pessoas diziam rindo, de repente, começam a dizer chorando.
Infelizmente, é isso que o discurso do etarismo acaba fazendo. Ele não só apaga pessoas, cobrindo-as com o manto do preconceito, mas também faz com que muita gente perca a vida, mesmo acordando e respirando todos os dias.
Por isso, me recuso a parar de aprender, de ser criativo e de brincar com o que me encanta. Seja música, escrita, videogame, um idioma, um esporte, uma praia… se estiver lá para ser apreciado, é lá que estarei.
A história de cada pessoa é diferente, claro. Há quem precise lutar muito para chegar em lugares que certas pessoas chegam ainda muito jovens. Há quem faz coisas por prazer. Há quem aprecie um bom desafio. E há quem não tenha escolha a não ser continuar lutando.
Mas, apesar das circunstâncias, o importante é aproveitar cada oportunidade que se abre pra continuar sentindo e explorando a vida.
Cesta de Compartilhamentos: Arise - A Simple Story
Não lembro se já falei de games aqui antes e nem sei se tem algum apreciador por aí, mas decidi trazer um que comprei recentemente pro meu Nintendo Switch. O nome do jogo é Arise - A Simple Story.
Arise tem como protagonista um homem velho, barba e cabeça brancas, que acabou de morrer. O jogo conduz você por uma coleção de memórias de vida, contadas por meio de imagens oníricas belíssimas. A empolgação do amor juvenil, o florescimento de algo mais profundo e a agonia de uma perda repentina. A maneira como você consegue prosseguir, mesmo devastado, e as reflexões que o acompanham quando a morte vem se aproximando.
Tudo entregue com absoluto cuidado, de uma maneira que causa uma enorme ressonância emocional.
Caso decida experimentar, recomendo pegar um lenço.
Na Vitrola do Luri: A trilha sonora de Celeste
Celeste também é um game bem legal que conheci no Switch, que trata de diversos temas de saúde mental como ansiedade, depressão e a dificuldade que é atravessar essas negatividades.
Porém, não estou falando de Celeste pra recomendar o jogo (embora eu recomende). Trago pra você a trilha sonora, um destaque que descobri sem querer. O jogo eu não pego há eras, mas a trilha composta por Lena Raine não sai do meu fone, especialmente quando preciso de um impulso especial para me concentrar.
Diário de Produção
Semana passada fui acometido por uma inesperada infecção na garganta. Fiquei a semana quase toda com febre, sem conseguir trabalhar direito, mas graças ao milagre da medicina, estou de pé novamente, firme e forte.
Olhando pelo lado positivo, abandonei qualquer pretensão de sair e ser social enquanto estava tomando os remédios e, após me recuperar, nunca me senti tão bem. É como se realmente estivesse novo.
Ainda estou com um pouco de receio de fazer novos planos de longo prazo pra música ou até mesmo pra newsletter. Venho vivendo uma semana depois da outra e vendo se alguma coisa brilha o suficiente pra valer a pena perseguir.
A boa notícia é que esse espaço gerado pela febre acabou me fazendo revirar algumas gavetas aqui em casa.
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Um abraço apertado,
Luri
Obrigada por compartilhar essa parte importante da história da sua família e nos permitir refletir. Vou usar a sua frase quando achar que estou "muito velha" para terminar a segunda faculdade... Obrigada e parabéns.
Obrigado por compartilhar seus sentimentos conosco! Seu post alegrou minha manhã!