Hoje a newsletter é uma daquelas estilo blog 2002.
Ou seja, não vai ter texto elaborado, só conversa solta na pegada diarinho pros amigos. Então, se você for dos corajosos e decidir ficar, pega um café e prepara os ouvidos.
Pausa para o comentário: eu leio ouvindo a voz da pessoa que escreve. Caso eu tenha lido algo seu, imagino sua voz na minha cabeça, com o máximo de detalhes possível. É melhor quando conheço você, porque aí eu reproduzo sotaque, trejeitos e tudo. Mas se não conhecer, eu imagino sem a menor vergonha. Inclusive, uma das coisas que mais comento quando conheço pessoas da internet é que a voz corresponde ou não ao que eu tinha imaginado. Enfim, doideiras da vida. Fim da pausa.
Vamos ao assunto.
Acabou que precisei de um tempo nos últimos dias e, por isso, não publiquei a newsletter da semana. Ando uma pilha de cansaço, fui devorado pela rotina. Estou caindo vítima do encosto da correria e não estou conseguindo tempo e, muito menos, espaço mental para me dedicar ao Puxadinho.
No nível mais grosseiro, meus afazeres do trabalho de todos os dias começaram a transcender os horários e os compartimentos de pensamento reservados a eles.
Mas junto com isso, passando pra um nível mais sutil, andei percebendo alguns movimentos peculiares aqui no interior.
Começou há uns meses. Eu vinha sentindo uma dificuldade enorme em manter a disciplina e o foco. Meu trabalho ficou mais bagunçado, depois lesionei a lombar e com isso, os textos foram ficando cada vez mais difíceis.
Percebi que não era só uma questão de encontrar os temas e as palavras corretas. O problema era na fundação. Minhas raízes estavam adoecidas e secando cada dia mais.
Também tem um tempo que alguma coisa em mim chuta e se revira pra lá e pra cá. É uma inquietação que vem crescendo e agora está pressionando as paredes de dentro pra fora.
Comecei um pequeno projeto de tirar da minha vida tudo o que estivesse velho, gasto, empoeirado. Andei comprando (mais) plantas, trocando coisas de lugar, limpando a estante, jogando tranqueiras fora e doando roupas.
De repente, notei que as roupas que sobraram não faziam mais eu me sentir bem dentro delas. Queimei algumas economias e comprei novas.
Marquei viagem para Belém, para ver a família e os amigos.
Novamente, parece que as palavras voltam a encontrar o caminho em direção à ponta dos meus dedos e, agora, falo com você.
Senti que o momento pedia autenticidade e nada mais autêntico do que contar da vida, falar das novidades, do que está acontecendo sem floreio. Afinal, dar notícias é também uma forma de amor.
Semana passada, enquanto fritava sobre o que publicar, me deparei com essa publicação no Instagram, com essa citação da Pema Chödron que podemos traduzir mais ou menos assim:
“Todos os dias nós pensamos sobre a agressão no mundo… todo mundo sempre ataca o inimigo, e a dor escala infinitamente… nós poderíamos refletir sobre isso e perguntar a nós mesmos, ‘Eu vou adicionar mais agressão ao mundo?’ Todos os dias nós podemos nos perguntar, ‘Eu vou praticar a paz ou eu estou indo para a guerra?’.” —Pema Chödron
Normalmente, sou o primeiro a defender o comparecimento, a necessidade de ir lá bater ponto. E continuo achando fundamental manter a dedicação. Mas também é essencial o discernimento para entender quando a coisa não está sendo benéfica pra ninguém e está só se tornando uma forma de violência.
Eu costumo ter esses períodos nos quais a bateria vai acabando, muito provavelmente por um hábito de puxar forte demais, levar a sério demais. Acho que, de uma certa maneira, eu vinha transformando até a escrita como uma violência nesse sentido.
Relutei bastante, me culpei, tentei tirar leite de pedra e mesmo assim, não consegui entregar um texto. Mas agora, penso que foi bom. Falhar tem esse aspecto libertador dentro dele. Acho que a imagem que eu vinha sustentando caiu de um jeito bem fácil só com essa pequena falha e isso foi ótimo, considerando que meus ciclos sem publicar normalmente são bem maiores. Então, estou no lucro. ;)
Meu coração saiu de um estado enrijecido pelo dever e agora, acho que estou reconstruindo de novo o ânimo de escrever. Não só isso, mas também de viver. Afinal, é essencial que nossas palavras e ações tenham alma, energia, intento. Nada pior do que consumir meu tempo produzindo algo morto e fazer você perder o seu tempo lendo isso.
Sempre lembro da minha mãe acordando de pá virada nos finais de semana mudando os móveis de lugar e tacando água, lavando tudo. Acho que tem esses momentos nos quais a gente quer lavar fora a sujeira de dentro.
Sinto que ainda tenho muita faxina para fazer, mas ao menos já comecei.
E você? Como anda a vida por aí? Espero que não ligue pra bagunça, mas pode pegar um banquinho e sentar. Vamo conversar.
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Eu publico dois textos por mês no plano gratuito, mas contribuindo com o Puxadinho com R$10 por mês, você recebe mais dois textos exclusivos (tornando a periodicidade semanal) e se torna prioridade nas próximas empreitadas que pretendo começar a realizar com o seu apoio. :)
Então, para me ver feliz e contribuir com a existência e crescimento do Puxadinho, você já sabe o caminho:
Luri, ainda hoje pensava que estava com saudade de ler uma carta sua e quando cheguei do mercado, cá estava mais uma edição do puxadinho!
Essa carta fez todinho sentido pra mim, dá vontade de emoldurar. Às vezes fico dividida entre calar ou compartilhar os meus "dark moments" com os leitores, mas daí lembro que a newsletter, pra mim, é a documentação de quem sou hoje. Claro que cada pessoa escreve com um propósito, uma pegada e como sou propensa ao esquecimento, escrevo pra dizer quem é essa pessoa que anda bem perdida. É um fio de ariadne meio narcisista, mas quem nunca, né.
Abraço!
Incrível que esses dias eu tenho estado nesse nível de estresse e cansaço mental por conta dos afazeres do dia a dia. Nada muito novo, mas é sempre bom você reorganizar a sua casa interior, mudar alguns hábitos e tornar tudo mais harmônico. O bom dessa newsletter é que ontem eu estava pensando "puxa, as pessoas usam o whatsapp para falar que estão bem, eu queria mesmo era receber um e-mail contando da vida delas, estilo carta onde você fala de todos os detalhes, não somente um 'tô bem e vc?' ". Obrigado por abrir a porta da sua casa :)