Alguns meses atrás, o Anderson, meu amigo que mora no Japão, me mostrou uma foto que ele tirou na rua.
Era uma esquina, próxima a um semáforo. Ao fundo algo que parece um estacionamento e muitos displays luminosos com aqueles caracteres japoneses em fontes negritadas. Não faço ideia de nenhuma palavra do que está escrito, mas bem ao centro da imagem, tem um casalzinho caminhando de braços dados levando uma bicicleta ao lado. Cena digna de um anime.
Quando eu era mais garoto, lembro de pegar o ônibus para a escola e ficar horas e horas contemplando o caos urbano da minha cidade. Chegando na aula, era comum ter um desconforto. Por mais que amasse meus amigos, uma parte de mim sentia que eu era um forasteiro, que não fazia parte daquilo.
No fundo, era exatamente o que eu era. Meus pais se mudaram tanto quando eu era pequeno que até hoje as pessoas comentam como eu tenho um sotaque que não parece de parte alguma. Fora de São Paulo as pessoas acham que sou paulista, mas em São Paulo, as pessoas acham que eu sou de Brasília. Às vezes, tem gente que ouve minhas raízes paraenses na forma como eu me expresso, mas em Belém, ninguém acha que eu sou do Pará.
Esse sentimento de não ter um lugar no mundo me acompanha bastante. Tentei me adaptar na escola, na universidade e agora, na vida adulta. Ainda carrego o cacoete mental de achar que eu preciso me encaixar, fazer o que as pessoas fazem pra não notarem que eu sou de fora.
Quando lembro disso tudo, penso no sentimento que é expresso no inglês como longing. Ou seja, uma espécie de desejo por algo distante. Uma nostalgia por um lugar melhor. Quase uma saudade daquilo que você não conhece ou não viveu. Gosto dessa palavra porque ela carrega também um significado que toca o território da esperança. É uma melancolia por um futuro melhor.
Essa foto, talvez pelo afeto que tenho por cultura japonesa em geral, me remete a esse sentimento.
Dentro de mim, sempre tive um forte impulso criativo. Uma vontade incessante de expressar. Não necessariamente de expressar algo em específico, mas de expressar num sentido amplo, de procurar e revirar por dentro. Transformar o que eu encontrasse em luz e sombra, cores, texturas, palavras e sons.
Isso, de uma certa forma, é algo que o “mundo real” tenta constantemente apagar. Não adianta você saber escrever se não souber escrever editoriais publicitários ou textos para interfaces de sites e aplicativos. O importante é colocar suas habilidades para gerar resultados e aumentar os lucros da firma. Podemos aplicar a mesma lógica à música, ao desenho… a tudo.
Profissionalmente isso se entranhou na minha trajetória. Eu preferia investir nos projetos de outras pessoas fazendo algo que fosse útil a elas e não necessariamente o que eu realmente queria ou gostaria de fazer. Uma boa parte disso era medo de não conseguir me sustentar.
Assim, eu ficava ali, num eterno longing. Esperando por um futuro melhor, querendo encontrar um lugar no mundo pra pertencer, pra poder ser sem medo.
Isso me traz ao meu momento atual. Tentei manter projetos paralelos diversas vezes, mas as circunstâncias se interpunham e eu precisava correr para apagar qualquer que fosse o incêndio da vez. A exaustão, então, tomava conta e eu acabava desistindo.
Ultimamente eu venho sentindo um quentinho no coração de manter o Puxadinho. Enviar os textos pra você e ouvir a sua resposta, saber que você se identifica é novidade. É lindo. É estimulante. Por isso, eu finalmente venho sentindo que encontrei um lugar no mundo, uma comunidade à qual pertencer.
Comecei esse projeto como uma forma de soltar escritos que não tivessem forma definida, que não precisasse atender aos interesses dos algoritmos, que tivessem tempo pra respirar. Eu basicamente adicionei meus amigos e deixei a sorte operar.
A surpresa é que todos os dias novas pessoas chegam, se identificam e estabelecem conversas mais profundas, contam como se sentem inspiradas e representadas pelo que é publicado aqui.
Agora, eu me pego pensando que queria poder dedicar mais tempo pra cuidar do Puxadinho e de outras atividades artísticas e musicais. Andei sonhando em abrir encontros pra apreciação musical, cafés virtuais com pocket shows, rodas de conversa, workshops de escrita e composição.
Tornar este, cada vez mais, um espaço pra gente conversar, ser criativos e autênticos.
Essas possibilidades fazem meus sonhos brilharem.
Os principais obstáculos hoje são o tempo e o suporte financeiro. Pra ampliar minhas atividades, eu preciso poder dedicar mais tempo. E pra dedicar mais tempo, eu preciso de suporte financeiro.
Abrindo um pouco sobre meu processo, esse texto que você está lendo tomou cerca de 3 a 4 horas da minha segunda-feira. Mas antes, eu parei diversas vezes durante a semana passada, escrevendo e rascunhando outras ideias que acabaram não ficando boas o bastante pra serem publicadas. Calculo que, considerando os erros e o texto que agora está na sua caixa de e-mails, dediquei algo entre 6 e 8 horas na frente do computador.
E nessa conta não estão incluídas as horas estudando em busca de referências e ideias. Eu, basicamente, passo todo meu tempo livre dedicado a essas pesquisas. Óbvio que faço com todo amor do mundo, mas é um trabalhão.
É por isso que, apesar da timidez, decidi dar um passo em direção à sustentação financeira do Puxadinho e de tudo mais que eu faço.
Eu não sei se alguém vai contribuir, se isso aqui vai flopar completamente e eu vou só passar vergonha e afastar quem vem acreditando no meu trabalho. Mas até aqui, o que vem dando certo é dar a cara a tapa e abrir possibilidades, cultivar o imprevisto.
Então, mesmo que ninguém contribua agora, vou começar a deixar meu PIX após cada texto como uma maneira de financiar essas atividades.
Por enquanto, estou longe de viver apenas de escrita, música, arte e tudo mais que tenho pra oferecer, mas estou assumindo publicamente aqui que meu sonho e objetivo é esse.
Então, humildemente eu peço: se você se sentir beneficiado por algo que eu fiz, considere contribuir com o Puxadinho fazendo um PIX ou me pagando um cafezinho pelo Ko-Fi.
Minha chave PIX: luri@luri.me
A ideia agora é usar o dinheiro recebido pra melhorar a estrutura, pagar um ilustrador, um revisor, uma conta no Zoom e iniciar atividades que permitam mais olho no olho e que as conversas possam florescer com mais brilho e naturalidade.
O valor, de verdade, não importa muito. Acredite, se você me pagar um cafezinho é uma grande ajuda. Vou entender o gesto como um incentivo e um reforço do compromisso de sempre trazer o meu melhor pra gerar o máximo de benefício possível.
Então, se fizer sentido pra você ajudar agora ou no futuro, agradeço do fundo do coração pelo voto de confiança. <3
E, como sempre, se tiver ideias e sugestões, pode me mandar um e-mail e vamos nos falando.
Um abraço forte!
Na Vitrola do Luri: Luana Flores e o Nordeste Futurista
Quem olha apenas para o eixo Rio-São Paulo perde muito da música brasileira. Tem muita coisa excepcional acontecendo no Norte e no Nordeste. Hoje trago esse trabalho da Luana Flores.
O Nordeste Futurista é o primeiro trabalho dela e agora ela lançou esse álbum visual que tem múltiplas camadas de maravilhosidade.
A Luana Flores é paraibana, DJ, beatmaker, percussionista e produtora musical. O trabalho dela transita pelos ritmos nordestinos e funde o tradicional com a música eletrônica. Bom demais.
Diário de Produção
Como falei aqui em cima, comecei a sonhar com algo um pouco maior. Ando pensando em formas de sustentar financeiramente não só o Puxadinho, mas todas as minhas atividades como escritor, músico e artista.
Não é um processo fácil e sei que tem muito chão, mas uma importante parte é justamente abrir as portas para que o inesperado aconteça.
Enquanto isso, passei a semana amadurecendo a mix do áudio e a edição do vídeo da sessão ao vivo que vou lançar com o Espaço Interior, meu álbum.
Por outro lado, vejo como alguns obstáculos estão se interpondo aos meus planos de lançar esse disco até agosto. Talvez passe um pouco.
Sendo bem sincero, quero lançar logo, mas não compensa fazer as coisas sem esmero. Então, sigo concluindo tudo o que é necessário pra sair bem feito.
Espero que eu possa vir com uma data definitiva pro lançamento até a semana que vem. Vou avisando você.
Minha foto ficou foda né? O teu texto também. A minha memoria me prega pecas constantemente mas eu não me lembro de pensar em ti como um forasteiro. Lembro de ter achado curioso quando tu me disseste de onde eras mas foi só isso. No meu coração tu es paraense. (Difícil escrever em português num teclado japonês)
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