Quando eu estava na escola, era um preguiçoso. Odiava a aula de educação física tanto quanto quase todas as outras e, por isso, não pensava duas vezes antes de faltar às aulas.
Eu não era asmático, nem tinha nenhuma lesão que inviabilizava a prática. Não tinha nada de errado comigo. Como diria minha avó, era sem-vergonhice mesmo.
É só que era bem melhor passar um tempo com alguém pelos corredores, jogando conversa fora.
No mundo real algumas coisas são bem matemáticas. Eu reprovei.
Em um último suspiro de esperança, decidi falar com a professora, que não era das mais simpáticas. A ideia era perguntar se ela poderia me aprovar se eu prometesse ser mais aplicado no ano seguinte (como pode, né?). Óbvio, ela negou com a maior expressão de desprezo do universo. Eu suspirei o longo suspiro dos desesperados e desiludidos.
Enquanto entrava no carro, mal humorada por ser seguida por um mirrado Luciano adolescente, ela soltou algo que eu nunca esqueci:
“Esse suspiro é pra aprender que você não é diferente de ninguém.”
Doeu.
Muitos anos estão pra trás em relação a essa história. Acredite, ou não, ainda é difícil confessar, mas há um motivo muito claro pra eu ter me guiado a esse final.
Eu era péssimo na educaçao física. Pequeno, magrelo, desajeitado. Óbvio que eu preferia fazer mil outras coisas nas quais era melhor, como jogar conversa fora.
Mais tarde, comecei a cantar em uma banda. Eu era muito ruim, mas basicamente, música foi a primeira coisa que gostava tanto de fazer ao ponto de continuar mesmo mandando muito mal. Mas isso não quer dizer que os comentários não doessem. Eu estava sempre pronto a debater ou a dar alguma desculpa. O som estava ruim, não tivemos ensaio, alguém adoeceu, quebrei a perna… esse tipo de coisa.
Depois, comecei a escrever. Tem algo que só publicar online proporciona: o primeiro texto no qual você é rechaçado em praça pública. Não importa quão forte ou inteligente pense ser, você não vence a internet. Você apanha tanto que em algum ponto percebe que é melhor parar de lutar.
Por causa desse tipo de situação há quem desista de vez de escrever.
Há quem siga em frente, como foi o meu caso.
Não foi exatamente fácil ou rápido, mas em algum ponto tive um insight.
Quando queremos conseguir algo, ao invés de tentar criar as condições para que aquilo aconteça, nós começamos a pensar em como podemos convencer a outra pessoa de que somos merecedores de algo que, na verdade, não somos.
Pelo menos comigo esse foi um padrão que se repetiu durante muito tempo.
Depois de repetidas mancadas, precisei abaixar a bola e aprender a argumentar melhor, escrever textos que já contemplassem desdobramentos e confusões inesperadas. Depois, meus artigos começaram a dar sono, então, tive de descobrir como fazer pra ter um mínimo de tempero. E assim seguimos no processo de aperfeiçoar o ofício.
Musicalmente, eu tinha uma tendência a me esconder. Demorei muito tempo até lançar algo meu. Demorei a voltar a tocar. Demorei.
Mas eu queria ser um músico. Assim, como não existe pintor sem quadro, eu precisei colocar a mão na massa. Fiz aulas de canto, assisti umas videoaulas na internet, aprendi a mixar minhas próprias canções, comprei equipamento e tudo o mais que envolve a atividade. Depois, o desafio foi sentar e efetivamente produzir.
Estou generalizando, claro, mas seja na internet ou presencialmente, às vezes tenho a impressão de que as pessoas precisam demonstrar o quanto sabem e estão pouco propensas a ouvir, mudar caminhos e de alguma forma realmente aperfeiçoarem aquilo que fazem.
O mais comum é uma defesa cega de pontos de vista que muitas vezes sequer têm algum fundamento. É como se todos estivessem escondendo suas fraquezas e dúvidas com tanta força que mordem ao menor sinal de ameaça.
Só de pensar no trabalho que isso dá já fico esbaforido.
Eu demoro pra criar, preciso pesquisar, encontrar referências, quebrar a cabeça. Frequentemente tenho brancos e vivencio pesadelos com meus fracassos. Suo frio de pensar em me situar fora das minhas pequenas certezas.
Atualmente, partir do princípio de que eu de fato não sei, que preciso estudar e pensar melhor antes de partir pra ação tem tornado tudo bem mais leve.
E, na boa, cansei de fingir que não sou um bosta.
Eu não sou tão bom assim. Eu não sou diferente.
O que me resta é trabalhar com o que tenho.
Cesta de Compartilhamentos: Encontrando a liberdade
Jarvis Jay Masters foi condenado (injustamente) à morte nos EUA, mas após ouvir falar sobre Chagdud Tulku Rinpoche, assumiu um compromisso permanente com a paz e a não-violência e tornou-se um praticante budista dentro da prisão.
Eu soube desse livro em uma conversa com amigos, peguei o celular e comprei ali mesmo. A ideia de alguém tomando pra si o voto de beneficiar os seres vivendo no que existe de mais próximo da definição de inferno na terra me fisgou imediatamente. Não vejo a hora de terminar a leitura e deixo aqui a recomendação.
Na Vitrola do Luri: Tim Bernardes e Rodrigo Amarante
Eu sou um fã óbvio desse formato cantor-compositor e, além disso, meus ouvidos sempre gravitaram em direção a tudo que tanto o Tim quanto o Amarante criaram. Como era de se esperar, o combo dos dois se tornou uma repetição obsessiva na minha playlist. Ouçam também. ;)
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Um abraço apertado,
Luri
eu acho q dps de ler isso tudo, se achar 'um bosta' não é bem o caminho q devemos nos enxergar. admitir q não se sabe é um desafio e quando admitimos isso justamente caimos na realidade e percebemos q temos q correr atrás do conhecimento, da prática, de estudar, tentar.. e eu acredito q assumir o lugar de Não saber é muito mais rico do q estar no lugar de achar q sabe muito e se domina mt sobre algo. o perigo de achar q se sabe demais ou q se tem conhecimento necessário é se fechar para o novo, para outras perspectivas e isso, de certa forma, nos paralisa em um só lugar
Ô, Luri, chacoalha essa poeira aí. Quem disse que os outros precisam te achar merecedores? Você se acha merecedor? Eu acho que ter coragem de ir lá e fazer, entregando o seu melhor, já te destaca na multidão. #prontofalei.