Em casa eu tenho uma vitrola já antiga, dessas da Crosley, um modelo que deve ser de 2012 ou por aí. Ganhei de um amigo de quem sinto muita saudade, desses que apesar da distância, ainda está na minha lista de memes e eventuais checagens sobre como anda a vida.
Esse presente é especial porque muitos dos meus domingos de manhã têm o ritual de ligar o aparelho (gíria de velho intencional) e ouvir algum dos discos da minha pequena coleção. A experiência do vinil muito me atrai. Colocar o disco, mover a agulha, ver o prato começar a girar e, cuidadosamente, repousar a agulha sobre o disco. Em seguida, sentir o ruído característico do atrito da agulha no disco ser interrompido pela música.
Quando faço isso, eu fico com a capa nas mãos, vendo a arte, lendo as letras. Às vezes simplesmente sento e ouço. 15 minutos depois, o disco me chama, pede que eu troque o lado. Mais 15 minutos e a experiência acabou.
Nessa nossa época de coleiras digitais e interfaces luminosas, dizem que ninguém mais ouve discos. Dizem que acabou isso de parar pra ouvir música. Dizem que as pessoas não têm mais paciência pra apreciar qualquer coisa que seja por 15 minutos. Ou 15 segundos.
Eu sempre quis gravar um disco, desde que o Luri do passado cantou em sua primeira banda, lá nos idos da adolescência. Mas a vida foi se interpondo com suas importâncias, urgências e expectativas às quais eu fui cedendo. Quando percebi, anos de dedicação aos projetos e necessidades dos outros se passaram.
A vida voa.
Em 2020, com a lição aprendida e a demissão do meu antigo emprego, achei que era hora de realmente colocar alguns sonhos pra se realizarem.
Porém, o que inicialmente era pra ser um EP com 3 músicas para lançar no mês seguinte, se tornou um projeto de álbum com 8 músicas que se estendeu por dois anos.
Construir uma experiência longa é totalmente diferente de criar um texto para a newsletter, um post para a rede do momento ou até mesmo lançar um single. São muito mais pontas a se amarrar, decisões para contemplar e, principalmente, muito mais espaço para preencher e atribuir significado.
Não é à toa que aquele dito popular sobre o que as pessoas deveriam fazer para ter uma vida realizada diz pras pessoas escreverem um livro. No meu caso, criar um disco.
São dois anos sintetizados em um punhado de músicas que condensei em uma experiência de 30 minutos. São palavras que carregam experiências de toda uma vida humana. Coloquei em forma de letra de música, melodia e ritmo o que considero o melhor que tenho a oferecer agora.
Como é maluco pensar nisso, né?
Dá um medão.
E se o meu melhor for, de fato, bem ruim?
Esse salto no escuro paralisa muita gente. Já me paralisou muitas vezes.
Mas então, eu lembro da sensação de ouvir a voz de alguém congelada no tempo, representando um certo período, transmitindo um certo sentimento que me conecta àquele outro ser que ali canta ou toca. Assim, não consigo deixar de pensar naquele Luri do passado, deitado no sofá, cantando e lendo as letras nos encartes dos discos que amava.
São muitos anos que me separam dessa memória e eu me vejo, agora, do outro lado do auto-falante. Esse era o sonho.
Eu até concordo com o que dizem, talvez a maioria das pessoas não ouça mesmo discos. Mas por que eu deveria me importar com isso?
Tudo o que venho fazendo tem o mote da conexão. Com meu disco não é diferente. O Espaço Interior coloca do avesso o que tenho aqui dentro, pra mostrar e principalmente pra construir uma ponte entre nós, pra ter algo que nos deixe um pouco mais juntos. Uma memória, um assunto.
Quem sabe, agora, eu consiga fazer alguém deitar no sofá, lavar uma louça ou trabalhar sentindo algo gostoso dentro do peito. Quem sabe, um dia, essa pessoa vai lembrar de alguém quando ouvir uma música minha. Quem sabe, novas conversas surjam a partir das experiências que tive ao criar esse álbum. Quem sabe faço novos amigos, viajo para cidades que nunca conheci ou faça música com pessoas que nem imagino.
Não dá pra gente passar achando que temos amanhã, que os anos vão se empilhar e vai dar tempo pra tudo. Não dá pra gente viver fazendo apenas o que alimenta os algoritmos, traz público e enche os bolsos. Tem coisas que precisam ser feitas sem quê nem porquê.
Hoje estou compartilhando com você o meu primeiro disco. É um antigo sonho que agora posso dar check. Quer sensação melhor do que essa?
Afinal, como bem sabemos, a vida voa.
Não temos tempo pra perder. Não temos tempo pra não mergulhar de cabeça.
E, principalmente, não temos tempo pra não ser e não fazer o que a gente quer.
Hoje eu lancei meu primeiro álbum, o Espaço Interior.
Ouça nas plataformas. Na ordem, todinho. Repita, indique pra quem não conhece. Manda no grupo da família.
Como tudo por aqui, foi feito com todo carinho. Tomara que você goste. ❤️
Passando o chapéu
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Um abraço apertado,
Luri
Como é bom abrir o email e receber o seu texto com aquele quê de impulso, pra mim é o que tá sendo.
"E se o meu melhor for, de fato, bem ruim?" é o que tem me assombrado por esses dias, mas o alívio vem com a perspectiva do novo, do sonho, que vc trouxe hj no lançamento do seu álbum, que certamente escutarei em breve, com o momento sereno que lhe cabe, pq essas coisas quando vem ao mundo devem ser apreciadas no íntimo.
As realizações de pessoas queridas me alegram e fazem florescer um brotinho de esperança de que tudo passa e o frescor da brisa boa chega.
Voa Luri!!!!!!
Curtindo o som aqui Luri, que vibe boa! Parabéns pelo trabalho!