A parte boa das ideias ruins
Quando você muda de ideia e tenta outra coisa e outra e outra...
Mais uma tarde de trabalho. O sol forte entrando pela janela, pego o violão, arranho o caderno com a caneta. Alguns versos. Alguns acordes. Mudo de ideia, tento outra coisa e… nada.
Às vezes caio nesse buraco.
Quero criar algo, uma música ou texto. Então, meio sem saber para onde ir, rabisco vários fragmentos que não chegam a lugar nenhum. Tento o primeiro, o segundo, o terceiro… quando dou por mim, passou-se um dia, uma semana.
Já cheguei a ficar meses assim. Anos, talvez?
Algumas vezes, claro, essa situação vai desembocar em algo bem interessante. Afinal, você tentou mover o moinho das ideias, certamente, em algum momento esse monte de retalhos acaba fazendo sentido e se unindo em algo que lembra uma colcha um pouco mais coerente.
Pode ser um problema confiar apenas na sorte de, lá na frente, encontrar um caminho que faça sentido.
O que eu faço quando percebo que estou assim?
Depende muito de várias coisas. Mas tem um truque que eu comecei a aplicar e vem sendo muito bom.
Não lembro bem onde vi. Talvez tenha sido no documentário Get Back. Talvez eu esteja inventando memórias… Mas decidi confiar no poder da história ao invés de me embrenhar em um documentário com quase 8 horas de duração.
O ponto é que ouvi em algum lugar o George Harrison comentando um pouco sobre a influência que John Lennon teve sobre ele como compositor. George não era do tipo que compunha as próprias canções. Ele não sabia como fazer e se via mais como um instrumentista. Mas de tanto ver John e Paul atuando, começou a sentir vontade de fazer o mesmo. O problema é que sempre travava. John, então, deu uma dica que mudou a vida do George. “Quando tiver uma ideia, conclua ela ali mesmo, enquanto ainda está no mesmo clima.”
É uma bela dica.
Venho adotando algo que vai nessa direção. Quando me pego perdido, sem saber o que fazer, começando e pulando de ideia em ideia sem sentir que nada vale a pena, busco concluir mesmo as ideias ruins.
Claro, há diferentes abordagens, mas eu tendo a pensar que concluir mais ideias é melhor, especialmente para quem ainda está começando e precisa reunir repertório. Quando você termina uma ideia, ganha mais experiência.
Passei a internalizar um mantra: você só é tão bom quanto já é agora. Não adianta martelar infinitamente um mesmo texto ou música… o que você tem é o que está lá. Quando conclui e parte pra outra, você dá espaço a si mesmo para estudar, reunir novas referências, aumentar seu repertório e, ao se exercitar com mais frequência, progredir mais rápido.
Bloqueios criativos são uma praga bem poderosa, especialmente para quem é muito perfeccionista. Você olha e pensa em mil formas de aperfeiçoar algo que está fazendo. Porém, muitas vezes, essas ideias não estão tão claras assim, afinal, se estivessem, você simplesmente faria aquilo que pensou.
Já ouvi chamarem isso de paralisia de análise. Ou seja, um tipo de ansiedade que surge quando o processo está em um certo ponto e você acha que não está bom o suficiente para ser considerado terminado e, então, fica ali em cima pensando, analisando, tentando achar uma saída. O bom e velho overthinking.
Quando tudo trava, costuma ser melhor respirar fundo, aprender a passar por cima disso e fazer o que for necessário para ter o seu melhor no momento. É mais importante ter algo rolando do que ficar esperando pelo mundo ideal milagrosamente se manifestar na sua frente.
É bom fazer esse exercício de levar as coisas até o final. Uma ideia pela metade dificilmente vale alguma coisa, mesmo que esteja guardada na sua gaveta para, por milagre, ser usada posteriormente, quando encontrar seu lugar.
Já uma ideia completa pode ser reaproveitada, unida a outras, até mesmo separada em várias menores… no mínimo, é algo que você compreendeu e levou a cabo.
Quando você termina algo, isso vira um tipo de experiência muito útil, que é a de pensar até o fim, de saber onde vai, o porquê de ir até certo ponto e, claro, também saber a hora de parar.
É um exercício para a mente e para vida.
Quando terminar, se achar que está horrível, jogue fora, se quiser. Você não é obrigado a publicar.
Mas termine.
Você ganha muito mais concluindo uma variedade de ideias do que lapidando uma só à exaustão. Pode confiar.
Diário de produção: continuando a continuar
Olá! Eu sofri um pequeno acidente semana passada que está dificultando minha rotina de escrita. Venho sentindo dores que estão me dificultando de permanecer sentado por longos estirões de tempo, então, a newsletter dessa vez vai minimalista, só com o texto mesmo. :)
Assim que voltar ao normal, volto a trazer as newsletters recheadas de links e referências, combinado?
Um abraço e até a próxima!
Gostei da News só um um texto mesmo.
Dica valiosa! Se eu for contar os textos e ideias inacabadas nos blocos de notas (físicos e virtuais) não paro tão cedo.